Juízo do Juiz

2/27/2007

o que diz o Diabo sobre Deus

Nem o início, nem o fim

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por actores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fim?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...

(...)

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjectividade objectiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células nocturnamente conscientes
Pela nocturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atómica das coisas,
Pelas paredes turbilhonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

Se te queres -Álvaro de Campos

Pain (O tempo parou, e assim ficaram para sempre)

"Anda ver como o Mundo é calmo depois de fazermos amor", sussurrou ele, enquanto fumava à janela.

O vento frio, de uma noite chuvosa, limpava-lhe as ideias e arrefecia e purificava o ar quente e pesado que se tinha instalado no quarto das paredes vermelhas, depois do jogo de sedução e paixão que ali tinha tido lugar.

"Abraça-me", pediu ela, semi-nua.

Aconchegou-a nos braços e beijou-a no pescoço. A luz amarela dos candeeiros da rua reflectiam no alcatrão molhado e na janela coberta por milhares de gotinhas de água da chuva. Ela cheirava a amêndoas com mel, misturado com um perfume de amor.

"Lembras-te do nosso primeiro beijo?", lembrou ela, saudosista. Ele lembrava-se de todos, atá daqueles que ela não contava, como os primeiros "acidentais" beijos no canto da boca. Ele não respondeu. Estava hipnotizado com o cheiro da chuva, o cheiro quente da estrada e da terra húmida, pelas luzes da noite, pelo cheiro dela.

Deitaram-se na cama, abraçados, e trocaram festinhas, beijinhos, carinhos.
Adormeceram.

O tempo parou, e assim ficaram para sempre...

Tom Waits, Mule Variations (1999),What's He Building?

2/23/2007

What's he building in there?

"What's he building in there?
What the hell is he building
In there?
He has subscriptions to those
Magazines... He never
Waves when he goes by
He's hiding something from
The rest of us... He's all
To himself... I think I know
Why... He took down the
Tire swing from the Peppertree
He has no children of his
Own you see... He has no dog
And he has no friends and
His lawn is dying... and
What about all those packages
He sends.
What's he building in there?
With that hook light
On the stairs.
What's he building
In there...
I'll tell you one thing
He's not building a playhouse for
The children. What's he building
In there?
Now what's that sound from under the door?
He's pounding nails into aHardwood floor... and I
Swear to god I heard someoneMoaning low... and I keep
Seeing the blue light of a
T.V. show...He has a router
And a table saw... and youWon't believe what Mr. Sticha saw
There's poison underneath the sink
Of course... But there's also
Enough formaldehyde to choke
A horse... What's he building
In there. What the hell is he
Building in there? I heard he
Has an ex-wife in some place
Called Mayors Income, Tennessee
And he used to have aconsulting business in Indonesia...but what is he building in there?
What the hell is building in there?
He has no friends
But he gets a lot of mail
I'll bet he spent a little
Time in jail...I heard he was up on the
Roof last night
Signaling with a flashlight
And what's that tune he's
Always whistling...What's he building in there?
What's he building in there?
We have a right to know..."

2/16/2007

Ó tu que te escondes atrás de um número não identificado, show yourself!!!!!

Tu, que me andas a tar toques, não identificados para o telemóvel, eu sei que queres aquilo em que eu estou a pensar, eu sei que gostas daquilo em que estou a pensar, e sei que isso te está a remoer aí dentro....e olha que a minha mente consegue ser muito perversa!

Qual o objectivo do toque não identificado? É o mistério? É eu ficar a pensar quem é que me anda a dar toques, até chegar a ti? Isso é estúpido, pq devias querer que pensasse só em ti, e não em algumas "suspeitas".... Se queres fazer com que naquele momento eu pense em ti, e saiba q tu tás a pensar em mim, então o toque não identificado não é a melhor solução, acho eu....

Talvez ainda não te tenhas apercebido que os teus toques não estão identificados, quando querias q estivessem, mas é uma hipótese na qual não acredito muito...

Eu já dei toques anónimos, até me aperceber que era estupido....um toque anónimo é o mesmo que não dares o toque, aliás é pior, pq a pessoa q o recebe, em vez de pensar em nós, pensa em muitas outras pessoas, e talvez não pense em nós....hipoteticamente, quando descobrir a verdadeira identidade pode sentir-se....desiludida.

Na minha lista de suspeitos, ou melhor, suspeitAs, estão quatro pessoas....2 são leitoras deste blog, se bem que axo que não muito assíduas, e outras duas, que eu saiba, nunca cá puseram os pés...

Dessas quatro, uma eu penso que não tenha o meu numero de telemovel (e não é leitora do blog, logo a probabilidade de leitora do blog passa pa 2/3), por isso é praticamente impossivel, e ela so o podia ter arranjado de uma pessoa, o que eu axo pouco provavel, mas vou investigar para te excluir. Ok já são só três, com uma muito forte suspeita. Dessas três, acho que nenhuma delas teria necessidade de me dar toques anónimos, fosse pq motivo fosse.... Se me querem comer, digam (será que é muito presunçoso da minha parte assumir que me querem comer por me darem toques anónimos?), eu não fico chateado com vocês! Mostrem-se!!

Eu não sei se isto serviu de alguma coisa, mas deu um belo post, ou não??

PS- A história é real.... andam-me mesmo a dar toques anónimos....

2/08/2007

"A vida é fantástica"... (Andrógeno parte II)

disse ela enquanto sorria para mim. "Porquê?", perguntei eu por entre o fumo do cigarro.
A resposta não veio por palavras, mas através de uma energia contagiante, ela estava feliz.

Vesti-me e fui ter com ela. Era noite, quente, luminosa. Estava à minha espera sentada no passeio, com o seu ar meigo e desajeitado. Pensei em como a amava e em como não podíamos ser fieis, mas amávamo-nos, sim! Dei-lhe a mão e deixei-me guiar por ela. Fechei os olhos e libertei-me das ideias e dos pensamentos, só ela ineteressava. O vento quente foi se tornando frio e húmido, e o ar cada vez mais puro e salgado.

Estávamos num encosta, lá em baixo o mar partia-se em mil cacos ao embater na maciça rocha. A lua reflectia nas ondas. Abri o vinho e bebemos da garrafa. Ficámos encostados, como o mar e a pedra.

"A vida é fantástica", disse ela. "Estou tão feliz neste momento que queria pôr na pausa", e sorriu....

O sol nasceu, e aqueceu o mar gelado. Fomos dar um mergulho, de mãos dadas. A água era uma barreira invisivel entre nossos corpos, mas rapidamente se apagou e unímo-nos num só ser. Os seus mamilos rijos enconstados nos meus, a minha mão dentro dela e a minha língua na sua boca salgada. As ondas embalávam-nos nesta dança de amor promíscuo, e assim ficámos para sempre. Tinhas razão, a vida é fantástica...