Juízo do Juiz

11/24/2006

Tou à tua espera!


11/12/2006

One minute withOut Oxigen.

Um minuto de observação, absorção e loucura. (Blame Albert Hofmann)

59s

Finalmente apanhamos a merda da mosca.
Pousamos o copo sobre ela e ficamos a ve-la a limpar-se.
Enquanto ela está na casa de vidro eu fumo um cigarro e envio o fumo lentamente para aquele ar com cheiro a comida acabada de comer.

53s

Ela chegou.
Cai uma chuva leve e as ervas daninhas crescem a olhos vistos.
Pela janela consigo ver o mundo lá fora como se eu fizesse parte dele.
Como se eu tivesse vivo.

49s

Sentou-se ao meu lado e disse que me odiava.
"Quero acabar." - disse ela convicta.
A mosca limpava as asas com as patas traseiras.
"Não dá." - Ela.
Eu via as horas no meu relógio de 1,50 €. Era 1:50h daquele minuto interminavel.

46s

A chuva parou.
O sol rasgou uma nuvem cinzenta, menos densa, e mostrou-se.
"Sem mais nem menos?" - perguntei.
Um cão passa em frente ao restaurante e hesita em entrar.

41s

Na radio ouve-se o Lou Reed a tocar a "Perfect Day" e por isso começa a chover torrencialmente com trovões e relâmpagos a intercalar.
A mosca olha imóvel para o céu da sua casa de vidro e vê outra da sua espécie.
"Sabes bem que não é sem razão" - responde-me.
e a mosca voa em alvoroço contra as paredes da casa.

38s

"Just a perfect day...problems all left alone"
Penso em como aquilo tudo podia ser diferente, se eu fosse diferente, se a mosca não me tivesse chateado, se as ervas daninhas não crescecem tão rápido, se o cão tivesse entrado e ela não tivesse vindo. Se ela nunca tivesse vindo.
Penso em tudo e no nada desse tudo tão vago e banal.

34s

Em volta ouvem-se risos bebados imaginarios. Todos querem ser diferentes.
Todas ficam humidas de desejo pelos olhos azuis do Peter.
Eu não sou o Peter. O Peter não é ninguém.
Quem é ela?
Pensa, pensa, pensa...Que vais fazer agora. Pensava eu para mim.

29s

Está quase a terminar.
O planeta já está a ficar quente com a próximidade da bola escandecente.
A mosca ficou colada numa gota de água, das poucas que ainda restavam na casa.
Mais uma expiração com fumo.
Mais um dia perfeito para os meus pulmões e para os meus sentimentos.

26s

"Está bem." - Digo-lhe e continuo - "É pena que seja este o desfecho porque eu gosto mesmo de ti".
Digo isto a todas, com palavras mentirosas.
Levanto-me da cadeira e dou-lhe um beijo na face.

24s

A mosca está a ficar pedrada com a escacez de oxigenio.
Eu pego na mochila e enfio-a nas costas.
Meto as mãos nos bolsos.
"Até logo" - Despeço-me dela.
Com um sorriso aberto e muita felicidade.

21s

"Só quero ser livre" - grita-me ela quando me aproximo da porta.

20s

Volto para trás.

19s

"Ela também" - replico, enquanto devolvo o ar aquela pobre mosca.

18s

A chuva é o que me reserva o destino próximo.

17s

Andar no meio da chuva torrencial numa auto-estrada qualquer faz-me mesmo sentir vivo.

16s

A musica continua a tocar na minha cabeça.

15s

Os carros passam a toda a velocidade.

14s

Eu sinto-me vivo.

13s

É incrivel a quantidade de coisas que nos passa pela cabeça quando sabemos que são os ultimos 13 segundos da nossa vida. Os ultimos segundos da vida de toda gente.

12s

Ele aproxima-se a toda a velocidade.

11s

Perfeito.

10s

Fecho os olhos e mando o meu corpo para a frente daquele Mercedes.

9s

8s

7s

6s

Estou estatelado no alcatrão molhado.
Os meus olhos abertos recebem a ultima chuva.

5s

Nos 5 segundos restantes o Fade Out faz-me recordar aquelas noites que passei com os amigos. As gajas que fodi e as que não fodi. As bebedeiras. A musica e Picasso. A arte. Os filmes. O sol quente de um dia qualquer de verão. Lembro-me de ti. Lembro-me de ti pela ultima vez.

4s

Como os finais só são bonitos nos filmes, o meu está cheio de sangue.

3s

O teu final nunca será diferente.

2s

Faltam dois segundos para morreres.

1s

Tudo escuro. Fecha-se a cortina.

0s

Afinal morrer não é assim tão mau.
Da próxima vez tudo vai ser diferente. Prometo.
Até logo.


11/06/2006

Húmida ela ficou

Enquanto os meus dedos deslizavam por dentro das suas calças de ganga e venciam a derradeira barreira do elastico das suas (pequenas) cuecas. Protegidos no escuro, trocávamos toques e olhares sexuais. Sem palavras o nosso jogo proseguia, sabendo que não iria ter o desejado fim, pelo menos não naquela noite. O alcool comandava a nossa pequena perversão e os cigarros sucediam-se uns aos outros. Despedi-me dela com um beijo no canto da boca, em frente da multidão que de nada se apercebeu.
O seu cheiro, nos meus dedos, agridoce e suave, fez-me companhia o resto da noite e é a única recordação que tenho daquela noite, em que o alcool comandou a vida.