Juízo do Juiz

5/14/2008

"I want to be someone else or I'll explode" [Thom Yorke]

O som do despertador cortou o silêncio que se abatia sobre o quarto. Era hora de (re)entrar na rotina de mais um dia de trabalho.

Este, a sair da cama de calças de ganga roçadas pelo uso e t-shirt preta, sou eu.

Este, que sai de casa despenteado, sem lavar a cara nem tão pouco os dentes, sou eu!

Este, que caminha sob uma miudinha chuva de verão, sou eu, e não vou em direcção ao trabalho, vou rumo ao desconhecido, na solidão espero encontrar o meu novo "eu"; o meu "eu" real, a minha verdadeira essência.

Quero-me reinventar!

Quero renascer!

Caminho em direcção ao sítio mais isolado possível, não trago telmóvel nem cartões de crédito, e o pouco dinheiro que trazia serviu para comprar mantimentos, isqueiro, gás (para carregar o isqueiro), um canivete suíço, uma faca-de-mato, um corta-unhas, uma tenda e um saco-cama. O dinheiro que sobrou dei-o a um punk que estava na rua a beber cerveja, a fumar um cigarro e a tocar viola na companhia de um velho rafeiro sarnento. "Cerveja e tabaco", pensei, "sem dúvida o que me vai fazer mais falta!"
Ao passar pelo punk pensei como era irónico o facto de ele depender tanto da sociedade que tanto odeia e rejeita; eu ao menos ia (tentar) abdicar dela o mais possível!

Cheguei a um local rico em vegetação, com um belo rio ("a minha amiga Vera iria adorar este sítio", pensei)e sem sinal de presença humana, o local perfeito, portanto!

O ser humano é o que é devido à Natureza ou à educação? Isto é, o ser humano, abandonado na selva, sem contacto com outros humanos (a sociedade) será igual a nós (seres humanos "da sociedade"), ou terá o comportamento de uma animal selvagem?

A "experiência proibida"!

O primeiro mês foi fantástico, comia pequenos animais, esquilos sobretudo, peixe, quando os conseguia apanhar, e frutos.

No terceiro mês comecei a sentir falta de algumas coisas, não era o conforto nem os bens materiais que me faziam falta, mas a convivência, com o sexo oposto, sobretudo o sexo!

A líbido foi um dos factores que me fez partir, sete meses e nove dias depois de ter chegado, mas não foi o factor mais importante.

Cheguei à conclusão que durante aqueles meses nunca tinha sentido uma alegria veraddeira porque a "alegria só é real quando partilhada." [Alexander Supertramp]


Chris Mccandless a.k.a Alexander Supertramp (12/02/68 - 18/08/92)


Voltei à sociedade, mas voltei uma pessoa diferente, uma pessoa melhor...espero eu...