Juízo do Juiz

11/24/2008

in media res

Fui para casa, com a certeza de que aquela recordação iria ser para sempre.

Analepse!

Estávamos à porta d'um bar. Eram três horas d'uma manhã gélida e chuvosa d'Inverno.

Estávamos...

O tempo passava por nós, e imóveis fitavamo-nos.

Pensei em toda a "filosofia" Budista, e em como a arte de meditar consistia em não pensarmos, para nos aproximarmos da nossa existência! Voltarmos a ser animais, libertarmo-nos do nosso ego egoísta e passarmos a ser amor, compaixão, harmonia, Deus, se assim o quiserem.

Era isso que, de certa maneira, estava a acontecer naquele momento - apesar do facto de eu estar a pensar nisso, logo invalidar a premissa do "não pensar", mas vocês entendem a ideia.

Ali estávamos nós! Parados, sem palavras. A nossa comunicação era química. Através da sensação, do olhar, do momento.

Fomos aproximando nossas bocas, devagar, como num filme. Como uma repetição de um lance de fora-de-jogo numa transmissão de um jogo de futebol.

As nossas bocas estavam a uma distância tão curta - sentia o calor que emanava dos teus púrPuros lábios, o suave aroma carmim a morango - que era impossível precisar. Como naquele paradoxo matemático que nos "prova" que os objectos nunca se tocam. Assim estávamos nós. As nossas bocas iam sempre percorrendo metade do caminho que faltava para o contacto. Metade a metade, era por isso impossível que nossas bocas alguma vez se tocassem - é sempre possível dividir por dois, sem nunca chegar a zero.

Nesse momento senti! Ia ser uma recordação para sempre.

Conheces a sensação daqueles breves instantes antes de acontecer uma coisa que realmente desejas, e que sabes que vai acontecer? Sabes aqueles nanosegundos antes de um beijo na boca? O coração a bater, desalmado, a adrenalina em excesso de velocidade que te faz tremer as pernas, que te faz cócegas na barriga? O rufar dos tambores? Os microsegundos antes de um remate ao ângulo, num jogo importante, entrar na baliza?

Imagina que paras aí o tempo.

Eu parei, nós parámos.

O beijo nunca aconteceu, a bola nunca entrou, e os tambores rufaram perpetuamente.

Os tambores vão rufar para sempre, lembrando-me daquele momento para toda a eternidade!

É impossível estragar o momento. Não posso voltar atrás e calar os tambores, meter a bola dentro da baliza.

Nem o teu nome sei!

Não posso marcar o golo!

E tudo é perfeito assim...

2 Sentenças

Blogger zita disse

Ui!
o rufar dos tambores!
TREMER!!
Butterflies and hurricanes!

ULÁLÁ!

11:32 da tarde  
Blogger Vera F. disse

Estive 3 anos assim... ou mais... não consigo precisar quanto tempo! Estivémos assim sem pensar que o estávamos!

Obrigada por me fazeres sorrir com uma história deliciosa das tuas!

12:31 da manhã  

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