Juízo do Juiz

6/08/2005

Pedras

Eu nao quero saber o porque de tudo. nem posso.
A vida?
...jà me chegava saber porque è que nao tou a sacar nada do winmx, atè parece que fizeram uma conspiraçao, tou em fila de espera ha mais tempo do que os gajos que tem de ser operados sei la onde...
Nao è nada disso:

Ontem senti um novo ataque de forças vitais aos meus neuronios.
aconteceu assim: estava a ler, e isso faz sempre ou quase bem- mas o importante è isto: è isto, o importante: è como se eu tivesse alguem a viver dentro de mim, uma outra pessoa, mas que sou tambèm eu, nao "eu" tipo dr.jeckill e mr.hide, mas è mais a ideia de uma casa que, construida, tem em si a marca de todo o seu passado, tem a prova evidente de ter sido outra coisa, de ter sido pedra, mas mais ainda: poder-se ia decompo-la por niveis, por fatias, e ver-se ia que ela tem em si nao so uma casa mas tudo aquilo que esteticamente representou enquanto foi construida. Tem a sua base que è uma base mesmo sem ter a casa em cima, e ...mas nao è tudo: A casa contèm em si os mesmos elementos que vao fazer parte da sua ruina.
A imagem dessa casa em ruinas daqui a muitos anos, talvèz seculos, è feita das mesmas coisas das quais è feita hoje a imagem da casa. Ela contèm a sua propria ruina.
O que è que tudo isso tem a ver comigo?

E' que eu senti ha uns dias, ou talvèz ontem, que tenho tudo em mim, que ha tanta coisa que ainda tenho que ser, e que ha tantas coisas que nunca vou dizer na vida se nao as disser, e se nao as disser nunca vao ser ditas, e se nunca forem ditas...nao vai mudar a vida a ninguèm.
E' tudo uma grande vertigem, è tudo uma dança, a 3/4, que roda e roda, devagar, e em cada momento temos a oportunidade de mostrar o nosso melhor passo, e ha momentos em que podemos sò fazer o melhor passo para aquele momento, e ha momentos em que caimos, tropeçamos, e nem podemos sequer concentrar-nos para manter o ritmo a 3/4... e ha momentos em que seguimos passivamente, arrastados... e ha momentos em que caimos e nao conseguimos levantar mais: e os outros pares tem de continuar, e rodam, e rodam... e mesmo se por algum tempo evitarem de nos pisar, contorcidos no chao a procura de forças para levantar (a procura quero dizer fisicamente, por baixo do pequeno sofà de veludo encostado à parede para as mademoiselles cançadas ou a procura de par), mais cedo ou mais tarde vamos ter de aceitar os pontapes nas costelas...

Quem è o par?
...Nao, nenhuma alma gèmea... sou eu.
Aquele Eu da casa, de sempre, enorme, encolhido dentro do meu corpo por simpatia e as vezes por piedade. O "eu" que às vezes mantèm o ritmo da dança, se eu nao estiver a conseguir, ou que mostra os seus melhores truques com os pès quando se roda, sò para me por em baixo.
Nao è nenhma alma, nao, porra. Sou sò eu, sempre eu.
Mas que nao serve para nada se nao disser as palavras que nunca disse (esquece o filme), (porra, esquece o outro tambèm), as palavras que...

Ha uns dias sentì que tenho de começar - tarde?
Nao sei. "Ele",(isto è, "eu") talvèz. sabe. Mas eu nao sei. Nao sei. E quem souber atire a primeira palavra.. perdao, pedra. Pedra, è isso: as palavras sao muito melhores para construir casas.

Tenho de começar a ver-me nao como uma casa onde vivem pessoas, mas como um monte de pedras, de que era feito um monte de pedras, de que foram feitas paredes anonimas, de que foram feitas uma casa, de que foi feito um lar, de serao feitas as ruinas que nao serao nunca "as ruinas da casa" mas sò ruinas, por si sò, feitas das mesmas pedras que...

E tenho de começar a dizer todas, todas as palavras... todas aquelas palavras.